Na aldeia

uma historia antiga
uma historia nova
um cruzar de historiassem que se consigam tocar

Na aldeia

Sento-me no largo da igreja
ouvi "ai que'a menina está tão crescida"
ainda se dizem estas frases, pensava eu que se tinham perdido no tempo.
se calhar perderam-se no tempo, ao mesmo tempo que esta aldeia.

"boa tarde",dizem-me sem conhecer
"boa tarde",respondo
um cumprimento simples,mas que revela uma proximidade humana tão profunda que nem palavras são capazes de as descrever.
Não pertenço, mas recebem-me como um deles com a facilidade de um olá de um amigo próximo.

Sento-me para comer, preocupam-se em perceber se sou boa gente.
alguns sentir-se-iam ameaçados ou agredidos, aqui não, serve para saber se te irão tratar como família.
após duas frases, já se esboçam sorrisos e recomendações sobre o que provar e roer.

vinho verde tinto, fruto das encostas aquecidas pelo sol e esquecidas pela civilização que apenas esperaseus frutos para os consumirem á velocidade que pensam que a terra gira.
Frutado, rico, com umavida escondida a cada meio segundo que o vinho permanece em minha boca. Sefosse mulher, facilmente me apaixonaria com tantas facetas, tão oferecidas comoas que esconde e apenas desvenda silvos ligeiros de existência.
o vinho mancha a transparênciado copo, denso e com presença.
"rica pomada",que me ajuda a curar o interior.

Será que me esqueci do que é viver?
Até a monotonia de excesso de actividades pode aprisionar-me.

Fala-se de têinpos passados na mesa ao lado.
quatro anciões falam do momêinto que passamos neste país.
já vividas, vidas completas, tiram consequências e antevêem futuros. Sem instrução universitária,mas suas análises são sólidas, e sem enredos. Criaria uma empresa com estes conselheiros batidos, sabem da vida e da condição humana.

naco divinal
qual picanha qual quê fingida com feijão preto...

o chefe pergunta-me"está mais ou menos?" Deve ter-me visto a salivar com cada corte def atia de naco que coloco na boca...foda-se que coisa tão boa!
Boémio na cidade? Esqueçam lá isso...
Esta refeição é para se fazer sozinho e com os sentidos abertos..


Uma aldeia pára para assistir a uma troca de pauladas.
anteriores planos em frente á tv e sofá, foram trocados por uma cadeira fria de jardim numa noite de Verão fresca de Agosto noutros tempos muito mais quente.

Ligam-se as colunas com som bem alto, com musica folclore em forma de chamamento à população que ainda não se encontra presente. folclore regional com sotaques bem marcados em vogais alongadas e ainda resistentes prenuncias de seculos já passados à muito.
Chegam mais uns habitantes…
"muito bôa noite..."
"bôa noite... "
"ja tamos aquiê."

donzelas , inseridas emseios familiares cerrados, apenas permitindo entrada a quem oferece verdadeirasintenções honestas. elas do interior sorriem e desdenhem sabendo de suasegurança. alguns homens poderão ficar loucos com tais encantos, ficando culpasatribuídas erradamente.

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